“Sou feito da inteira evolução da Terra; sou um microcosmo do macrocosmo. Nada há no universo que não esteja em mim. O inteiro universo está encapsulado em mim, como uma árvore numa semente. Nada há ali fora no universo que não esteja aqui, em mim. Terra, ar, fogo, água, tempo, espaço, luz, história, evolução e consciência – tudo está em mim. No primeiro instante do Big Bang eu estava lá, por isso trago em mim a inteira evolução da Terra. Também trago em mim os biliões de anos de evolução por vir. Sou o passado e o futuro. A nossa identidade não pode ser definida tão estreitamente como ao afirmar que sou inglês, indiano, cristão, muçulmano, hindu, budista, médico ou advogado. Estas identidades rajásicas são secundárias, de conveniência. A nossa identidade verdadeira ou sáttvica é cósmica, universal. Quando me torno consciente desta identidade primordial, sáttvica, posso ver então o meu verdadeiro lugar no universo e cada uma das minhas acções torna-se uma acção sáttvica, uma acção espiritual”

- Satish Kumar, Spiritual Compass, The Three Qualities of Life, Foxhole, Green Books, 2007, p.77.

“Um ser humano é parte do todo por nós chamado “universo”, uma parte limitada no tempo e no espaço. Nós experimentamo-nos, aos nossos pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto – uma espécie de ilusão de óptica da nossa consciência. Esta ilusão é uma espécie de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e ao afecto por algumas pessoas que nos são mais próximas. A nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos desta prisão ampliando o nosso círculo de compreensão e de compaixão de modo a que abranja todas as criaturas vivas e o todo da Natureza na sua beleza”

- Einstein

“Na verdade, não estou seguro de que existo. Sou todos os escritores que li, todas as pessoas que encontrei, todas as mulheres que amei, todas as cidades que visitei”

- Jorge Luis Borges

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Paulo Borges - 1/4 - Lançamento do seu livro "Quem é o meu Próximo?"



O primeiro video do lançamento do meu livro "Quem é o meu Próximo?", apresentado por Miguel Real no dia 28 de Maio de 2014. Não será o meu Próximo tudo o que sente, vive e existe? Porquê encerrar o "próximo" nos limites de uma espécie?

quinta-feira, 29 de maio de 2014

"Não há contradição entre a campanha política pragmática e uma visão espiritual" - Satish Kumar


"O amor pela natureza e o valor intrínseco de toda a vida, humana e não humana, são a base essencial em que os movimentos de justiça ambiental e social precisam de ser enraizados. A base de todos os movimentos é a reverência pela vida, e esta é uma base espiritual. Não há contradição entre a campanha política pragmática e uma visão espiritual. O programa político de Mahatma Gandhi foi fundado em valores espirituais. O Movimento dos Direitos Civis, de Martin Luther King, estava enraizado numa visão espiritual. Os movimentos de justiça ambiental e social contemporâneos também exigem uma visão do mundo ampla, em vez de se limitarem à ciência ecológica e às ciências sociais”

- Satish Kumar, Elegant simplicity is the way to discover spirituality
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terça-feira, 27 de maio de 2014

O neoliberalismo ilegaliza a cultura da compaixão


“As normas do comércio e a reforma neoliberal instauram leis que ilegalizam a compaixão propriamente dita. As patentes sobre a vida ilegalizam culturas da compaixão que tratam toda a vida como algo sagrado. A privatização de serviços públicos essenciais como a água, a saúde e a educação ilegaliza culturas da compaixão e da justiça social nas quais tanto a riqueza social como a natural se compartilham. Desmantelam-se economias pensadas para garantir e proteger os meios de vida, os postos de trabalho e a segurança social das pessoas e deixam-se estas sem lugar nem na sociedade nem na economia. Não são estes, precisamente, exemplos de economias compassivas, mas antes de uma economia violenta que adopta matizes cada vez mais bélicos, tanto nos seus métodos como nos seus resultados”

- Vandana Shiva, Manifiesto para una Democracia de la Tierra. Justicia, sostenibilidad y paz, Barcelona Paidós, 2006, p.42.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Três apelos

Caras Amigas e Amigos, no encerramento desta campanha eleitoral venho fazer-vos três apelos:

1 – No Domingo vão votar. Não se abstenham. A intervenção cívica e política e o exercício da democracia não se reduzem às eleições e ao voto, mas o voto é um instrumento importante e devemos a sua conquista em Portugal e no mundo à luta heróica de muitas gerações.
2 – Por isso mesmo, não devemos exercer o voto levianamente e contra a nossa consciência. Devemos conhecer os programas e os candidatos e não votar por hábito e irreflectidamente. A meu ver não devemos votar nos mesmos de sempre, no governo ou na oposição, porque o resultado está à vista: tudo continua igual ou pior. Também não devemos votar no que parece “útil”, se por “útil” se entende o voto nos que à partida parecem ter mais possibilidades de ganhar ou ser eleitos. É assim que temos sido responsáveis por colocarmos no poder e na oposição os mesmos de sempre e nada mudar. O único voto útil é o voto em conformidade com as nossas convicções.
3 – Na hora de votar, apelo a que ponderem se o devem fazer a favor do bem de apenas alguns ou antes do bem de todos os seres vivos, extensivo ao bem da Terra e da natureza das quais todos dependemos. A meu ver, o único voto ético e justo é aquele que não discriminar ninguém e visar o bem comum de tudo e todos, pessoas, animais e natureza. É por isso que, como sabem, voto PAN. Gostaria que houvesse outros projectos políticos com uma visão igualmente abrangente, mas infelizmente não há. É por isso que apelo a que conheçam o nosso programa - http://www.pan.com.pt/programa-eleitoral.html - e, se concordarem, que votem PAN em consciência. Porque o PAN, mais do que mais um partido, é o movimento dos que tomam partido pelo bem comum de tudo o que existe, sente e vive. Conto convosco para trazermos a consciência e o amor para a política. Bem hajam!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

As razões pelas quais no Domingo voto PAN

No dia 25 voto PAN porque não me abstenho nem das Pessoas, nem dos Animais, nem da Natureza. No dia 25 voto PAN porque não me abstenho do Futuro já Presente. No dia 25 voto PAN porque há os que criam partidos para defenderem os seus interesses e os interesses de alguns e há os que tomam partido pelo interesse de todos. No dia 25 voto PAN porque há partidos e há PAN.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

"Animal está no mundo para ser nosso companheiro, não nosso escravo e vítima" - Agostinho da Silva


Agostinho da Silva aponta uma das principais razões para votar PAN no dia 25:

"Animal está no mundo para ser nosso companheiro, não nosso escravo e vítima"

- "Proposição", 1974.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Ampliar o círculo da compreensão e da compaixão


“Um ser humano é parte do todo por nós chamado “universo”, uma parte limitada no tempo e no espaço. Nós experimentamo-nos, aos nossos pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto – uma espécie de ilusão óptica da nossa consciência. Esta ilusão é uma espécie de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e ao afecto por algumas pessoas que nos são mais próximas. A nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos desta prisão ampliando o nosso círculo de compreensão e de compaixão de modo a que abranja todas as criaturas vivas e o todo da Natureza na sua beleza”

- Einstein, The Expanded Quotable Einstein, Princeton University Press, 2000, p.316.

domingo, 18 de maio de 2014

Um excerto com as minhas declarações sobre o novo desígnio de Portugal

http://www.publico.pt/portugal/noticia/podemos-agora-ser-um-pais-normal-1636200

"Paulo Borges, filósofo e activista, líder do Partido pelos Animais e a Natureza (PAN), publicou em 2013, na Temas & Debates, um livro sobre a oportunidade que se oferece neste momento a Portugal de afirmar o seu papel no mundo. O último verso da Mensagem, de Fernando Pessoa, deu o título à obra: É a Hora!

“A minha interpretação da Mensagem é que há um sebastianismo activo. Há que descobrir o D. Sebastião que está dentro de cada um de nós. E a partir daí podemos reconstruir o país com base no autoconhecimento, na descoberta do que cada indivíduo realmente é. E podíamos pensar num país que não estivesse dominado por esta lógica do que eu penso ser uma fase terminal do capitalismo, esta fase produtivista-consumista, mas que tivesse como finalidade aquilo a que todos os seres humanos aspiram, que é serem felizes.”

Paulo Borges defende uma ideologia ambientalista, de sustentabilidade, energias renováveis, respeito pela natureza e os animais. Defende isto como um projecto para a humanidade, mas considera que Portugal pode desempenhar um papel especial neste processo de mudança de paradigma civilizacional.

“Portugal tem muitos recursos, em termos de energia maremotriz e energia eólica, e devíamos pensar em ter um país ético e sustentável, que vivesse fundamentalmente de energias limpas renováveis, que prescindisse dos combustíveis fósseis. Um país o mais possível sustentável em termos alimentares, que pratique uma agricultura biológica. E que esteja atento às recomendações da ONU quanto à necessidade urgente de reduzir o consumo de carne.”

Além das condições naturais, Portugal possui também uma tradição cultural propícia a um estilo de vida sustentável. O franciscanismo tem fortes raízes na religiosidade popular, bem como os cultos antigos da Natureza. “Uma nação não sobrevive sem um desígnio colectivo. Portugal teve-o até agora. Primeiro as Descobertas, depois o Oriente, África, o Brasil. Agora não temos. Já vimos que a Europa é madrasta.”

Ser a vanguarda mundial da mudança de civilização bem poderia ser o nosso desígnio, já que vivemos na frustração própria de quem foi corrompido pelos paradigmas dos países do Centro e Norte da Europa. Várias experiências estão a ser feitas. Um grupo de alemães que criou uma comunidade perto de Odemira “tem uma ideia messiânica para Portugal, que pode ser um mediador do Quinto Império. Portugal tem a vocação de ser uma alternativa em termos mundiais, em termos de um novo tipo de vida, sustentável, ecológica, respeitadora do ambiente e dos seres vivos”.

É claro que isso implicaria “reaprender uma vida mais simples”. Perceber que “o verdadeiro crescimento é o crescimento interior, não o económico. E os portugueses, até por via das circunstâncias, estão em condições de poderem compreender que se pode viver melhor com menos”. Para Borges, Portugal é, culturalmente, um país do Sul da Europa. “São povos avessos à ideologia do trabalho. Estão mais perto das culturas não europeias que privilegiam mais o lazer, mais o lúdico do que o trabalho, a vida como um jogo, o deleite, a busca da fruição, ter tempo, estar com os amigos, fazer o que queremos, olhar o mundo, não fazer nada. Acho que são valores civilizacionais que há que redescobrir.”

Paulo Borges, que tem hoje 54 anos, despertou para a consciência social e cívica com a Revolução do 25 de Abril. “Ao ver as pessoas, a efervescência, a vida nas ruas, senti que de facto tudo era possível. Podíamos organizar a sociedade de outro modo.” O que aconteceu depois foi para ele uma desilusão, como aconteceu com quase todos. “O verdadeiro 25 de Abril ainda não se deu”, pensa ele. E afinal quem não pensa e sente o mesmo?"

- excerto do artigo de Paulo Moura, hoje na revista do Público.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Saúdo-te, ó transfigurado ser humano

Saúdo-te, ó transfigurado ser humano
tecido de tudo o que há no espaço

Abrigas grutas, montanhas, florestas e oceanos no coração
amplos ventos respiras
fontes e rios te correm pelas veias
sóis e luas, pombas e serpentes te dançam na aurora do sexo

Asas, pêlos e escamas te revestem
o canto das aves
o silêncio da terra e do céu
são tua língua viva de atónito anjo iluminado

Em ti todas as coisas rejubilam
e a morte e a vida passam como sonho fugaz
de um livre amor inebriado

Saúdo-te, ó transfigurado ser humano
Saúdo-nos, ó irmãos
raízes, ramos, flores, frutos de tudo o que se abraça, beija e ama
de tudo o que em círculos de luz, dor e alegria
súbito e lento em espirais ascende
na virginal e eterna festa do espaço

terça-feira, 13 de maio de 2014

A necessidade de uma nova civilização


“[…] a Terra […] é um superorganismo vivo, com calibragens refinadíssimas de elementos físico-químicos, biológicos, humanos e auto-organizacionais que somente um ser vivo pode ter. Nós, seres humanos, somos corresponsáveis pelo destino de nosso planeta, da biosfera, do equilíbrio social e planetário que torna possível a continuidade da vida.
Essa visão exige uma nova civilização na qual os seres humanos naturalmente se sentem partes do Todo e cuidam com zelo desta pequena porção do Todo que é a Terra”

- Leonardo Boff, A Opção Terra. A solução para a Terra não cai do Céu, Rio de Janeiro/São Paulo, Editora Record, 2009, p.120.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Paradoxo do 1 de Maio: Celebrar o Trabalho?


O dia de hoje é paradoxal. Celebra-se o trabalhador, na efeméride de uma manifestação contra a exploração do trabalho pela civilização burguesa e capitalista, mas esquece-se que o trabalho é precisamente o valor em nome do qual essa civilização triunfou e que foi estranhamente assumido e divinizado pela quase totalidade do movimento socialista. A nova religião do sucesso pelo trabalho surgiu nos países do Norte da Europa (como mostrou Max Weber) e generalizou-se também em nome da emancipação da escravatura da maioria activa e produtiva da população para que alguns - clero e nobreza - vivessem desocupados, mas acabou por democratizar e universalizar essa escravatura, com a planetarização do Ocidente. Hoje somos (quase) todos escravos do trabalho, com excepção de uma minoria. Como dizia Agostinho da Silva, (sobre)vivemos sem tempo para outra coisa senão "ganhar a vida" que recebemos gratuitamente, sem tempo para contemplar, amar e criar, ou para simplesmente ser, constantemente ocupados e preocupados com a produção e o consumo de produtos, bens e serviços que na maioria são desnecessários, fúteis e muitas vezes prejudiciais, aproveitando apenas à minoria de investidores e especuladores que lucram com isso. A civilização do trabalho e do "neg-ócio" - a negação do "otium", a desocupação contemplativa, fonte de todo o conhecimento desinteressado - domina e escraviza tudo, desde os milhões de vidas humanas instrumentalizadas em actividades mecânicas, burocráticas e fastidiosas até ao número inconcebível de vidas animais industrializadas na produção de carne, peixe e lacticínios e aos recursos naturais, à biodiversidade e à paisagem de uma Terra devastada por este formigueiro alucinado, neurótico e "workaólico" em que se converteu a humanidade.

Se queremos libertar os humanos, os animais e a Terra temos de abandonar a nova religião do crescimento económico - com o seu novo deus-ídolo, o dinheiro e o lucro, os seus novos profetas-sacerdotes do marketing e da publicidade e os novos teólogos-economistas neoliberais ou socialistas produtivistas - e optar por uma sociedade onde se trabalhe menos e haja mais tempo livre para viver uma vida não centrada na produção e no consumo, com a vantagem de assim haver mais emprego para todos, menos destruição dos ecossistemas e das vidas dos animais e mais tempo livre para a cultura, o desenvolvimento pessoal e a felicidade. Mas isso exige, a par de recolocar a economia sob o domínio da política e esta sob a alçada da ética e da cultura, deixarmos de ser cúmplices da ganância institucionalizada e investirmos em vidas mais simples, com menos quantidade mas mais qualidade, reduzindo os desejos às necessidades, de modo a que a opulência de poucos não seja a miséria da maioria e haja uma abundância frugal para todos. Veja-se a fundamentação científica desta proposta na vasta obra do economista e filósofo Serge Latouche.

Esta nova atitude pode aprender-se e emergir mais facilmente nos povos, sociedades e culturas que preservam ritmos e formas de vida mais contemplativos, sustentáveis e festivos, como no Sul da Europa, África, América Latina, algum Oriente menos ocidentalizado e no mundo tradicional e indígena em geral, desde que se livrem da obsessão de imitarem o pior do estilo de vida europeu-ocidental. Comecemos por nós, portugueses e lusófonos, que temos a vocação histórica de promover pontes entre culturas e estamos numa posição estratégica ideal para trazermos para o Velho Mundo europeu ideias que o possam ressuscitar da decadência em que se afunda, vergado sob o peso das ideologias do trabalhismo, sejam de "direita" ou de "esquerda".

- In Paulo Borges, Quem é o meu Próximo? Ensaios e textos de intervenção por uma consciência e uma ética globais e um novo paradigma cultural e civilizacional, Lisboa, Mahatma, 2014 (a sair em breve).