“Sou feito da inteira evolução da Terra; sou um microcosmo do macrocosmo. Nada há no universo que não esteja em mim. O inteiro universo está encapsulado em mim, como uma árvore numa semente. Nada há ali fora no universo que não esteja aqui, em mim. Terra, ar, fogo, água, tempo, espaço, luz, história, evolução e consciência – tudo está em mim. No primeiro instante do Big Bang eu estava lá, por isso trago em mim a inteira evolução da Terra. Também trago em mim os biliões de anos de evolução por vir. Sou o passado e o futuro. A nossa identidade não pode ser definida tão estreitamente como ao afirmar que sou inglês, indiano, cristão, muçulmano, hindu, budista, médico ou advogado. Estas identidades rajásicas são secundárias, de conveniência. A nossa identidade verdadeira ou sáttvica é cósmica, universal. Quando me torno consciente desta identidade primordial, sáttvica, posso ver então o meu verdadeiro lugar no universo e cada uma das minhas acções torna-se uma acção sáttvica, uma acção espiritual”

- Satish Kumar, Spiritual Compass, The Three Qualities of Life, Foxhole, Green Books, 2007, p.77.

“Um ser humano é parte do todo por nós chamado “universo”, uma parte limitada no tempo e no espaço. Nós experimentamo-nos, aos nossos pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto – uma espécie de ilusão de óptica da nossa consciência. Esta ilusão é uma espécie de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e ao afecto por algumas pessoas que nos são mais próximas. A nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos desta prisão ampliando o nosso círculo de compreensão e de compaixão de modo a que abranja todas as criaturas vivas e o todo da Natureza na sua beleza”

- Einstein

“Na verdade, não estou seguro de que existo. Sou todos os escritores que li, todas as pessoas que encontrei, todas as mulheres que amei, todas as cidades que visitei”

- Jorge Luis Borges

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Dia 24, 18:30, Miguel Real apresenta o meu novo livro, "Do Vazio ao Cais Absoluto ou Fernando Pessoa entre Oriente e Ocidente"


Convido-vos para a apresentação do meu novo livro, "Do Vazio ao Cais Absoluto ou Fernando Pessoa entre Oriente e Ocidente" (Lisboa, Âncora, 2017), pelo escritor e pensador Miguel Real, no dia 24, às 18:30, na Sala de Actos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Este livro mostra um Fernando Pessoa que transita em duplo sentido entre o Vazio e o Cais Absoluto, dois temas e imagens marcantes na sua obra e icónicos do Oriente e do Ocidente. Na verdade, um Fernando Pessoa que, bem pessoanamente, se move entre um e outro, sem jamais se fixar num ou noutro. "Entre" é o espaço por excelência do fluxo pessoano. Entremos nele

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Crowdfunding CES (2) - Apelo à vossa contribuição



Comunicar é preciso!
Para expandirmos as nossas actividades a quem não as pode frequentar presencialmente, necessitamos de uma câmara de vídeo HD e de um computador, de forma a procedermos à gravação de imagem e som e divulgação através dos vários canais, um Vídeoprojector para disponibilização de material, e uma impressora. 
Pedimos um valor mínimo, 1€, embora aceitemos e igualmente agradeçamos qualquer valor, porque acreditamos que pequenos gestos feitos por muitas pessoas podem mudar o mundo.
Apoia a nossa campanha aqui: https://ppl.com.pt/pt/prj/comunicar-e...

segunda-feira, 1 de maio de 2017

O Paradoxo do 1 de Maio - Celebrar o Trabalho?


No dia de hoje publico um texto do meu livro "Quem é o Meu Próximo?", ligeiramente modificado, como contributo para a libertação da idolatria do trabalho:

"O Paradoxo do 1 de Maio - Celebrar o Trabalho?

O dia de hoje é paradoxal. Celebra-se o trabalhador, na efeméride de uma manifestação contra a exploração do trabalho pela civilização burguesa e capitalista, mas esquece-se que o trabalho é precisamente o valor em nome do qual essa civilização triunfou e que foi estranhamente assumido e divinizado pela quase totalidade do movimento socialista. A nova religião do sucesso pelo trabalho surgiu nos países do Norte da Europa (como mostrou Max Weber) e generalizou-se também em nome da emancipação da escravatura da maioria activa e produtiva da população para que alguns - clero e nobreza - vivessem desocupados, mas acabou por democratizar e universalizar essa escravatura, com a planetarização do Ocidente. Hoje somos (quase) todos escravos do trabalho, com excepção de uma minoria. Como dizia Agostinho da Silva, (sobre)vivemos sem tempo para outra coisa senão "ganhar a vida" que recebemos gratuitamente, sem tempo para contemplar, amar e criar, ou para simplesmente ser, constantemente ocupados e preocupados com a produção e o consumo de produtos, bens e serviços que na maioria são desnecessários, fúteis e muitas vezes prejudiciais, aproveitando apenas à minoria de investidores e especuladores que lucram com isso. A civilização do trabalho e do "neg-ócio" - a negação do "otium", a desocupação contemplativa, fonte de todo o conhecimento desinteressado - domina e escraviza tudo, desde os milhões de vidas humanas instrumentalizadas em actividades mecânicas, burocráticas e fastidiosas até ao número inconcebível de vidas animais industrializadas na produção de carne, peixe e lacticínios e aos recursos naturais, à biodiversidade e à paisagem de uma Terra devastada por este formigueiro alucinado, neurótico e "workaólico" em que se converteu a humanidade.

Se queremos libertar os humanos, os animais e a Terra temos de abandonar a nova religião do crescimento económico - com o seu novo deus-ídolo, o dinheiro e o lucro, os seus novos profetas-sacerdotes do marketing e da publicidade e os novos teólogos-economistas neoliberais ou socialistas produtivistas - e optar por uma sociedade onde se trabalhe menos e haja mais tempo livre para viver uma vida não centrada na produção e no consumo, com a vantagem de assim haver mais emprego para todos, menos destruição dos ecossistemas e das vidas dos animais e mais tempo livre para a cultura, o desenvolvimento pessoal e a felicidade. Mas isso exige, a par de recolocar a economia sob o domínio da política e esta sob a alçada da ética, da cultura e da espiritualidade (do despertar da consciência contemplativa), deixarmos de ser cúmplices da ganância institucionalizada e investirmos em vidas mais simples, com menos quantidade mas mais qualidade, reduzindo os desejos às necessidades, de modo a que a opulência de poucos não seja a miséria da maioria e haja uma abundância frugal para todos. Veja-se a fundamentação científica desta proposta na vasta obra do economista e filósofo Serge Latouche.

Esta nova atitude pode aprender-se e emergir mais facilmente nos povos, sociedades e culturas que preservam ritmos e formas de vida mais contemplativos, sustentáveis e festivos, como no Sul da Europa, África, América Latina, algum Oriente menos ocidentalizado e no mundo tradicional e indígena em geral, desde que se livrem da obsessão de imitarem o pior do estilo de vida europeu-ocidental. Comecemos por nós, portugueses e lusófonos, que temos a vocação histórica de promover pontes entre culturas e estamos numa posição estratégica ideal para trazermos para o Velho Mundo europeu ideias que o possam ressuscitar da decadência em que se afunda, vergado sob o peso das ideologias do trabalhismo, sejam de "direita" ou de "esquerda"".

~ Paulo Borges, "Quem é o Meu Próximo?", Lisboa, Mahatma, 2014, pp.188-189.