“Sou feito da inteira evolução da Terra; sou um microcosmo do macrocosmo. Nada há no universo que não esteja em mim. O inteiro universo está encapsulado em mim, como uma árvore numa semente. Nada há ali fora no universo que não esteja aqui, em mim. Terra, ar, fogo, água, tempo, espaço, luz, história, evolução e consciência – tudo está em mim. No primeiro instante do Big Bang eu estava lá, por isso trago em mim a inteira evolução da Terra. Também trago em mim os biliões de anos de evolução por vir. Sou o passado e o futuro. A nossa identidade não pode ser definida tão estreitamente como ao afirmar que sou inglês, indiano, cristão, muçulmano, hindu, budista, médico ou advogado. Estas identidades rajásicas são secundárias, de conveniência. A nossa identidade verdadeira ou sáttvica é cósmica, universal. Quando me torno consciente desta identidade primordial, sáttvica, posso ver então o meu verdadeiro lugar no universo e cada uma das minhas acções torna-se uma acção sáttvica, uma acção espiritual”

- Satish Kumar, Spiritual Compass, The Three Qualities of Life, Foxhole, Green Books, 2007, p.77.

“Um ser humano é parte do todo por nós chamado “universo”, uma parte limitada no tempo e no espaço. Nós experimentamo-nos, aos nossos pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto – uma espécie de ilusão de óptica da nossa consciência. Esta ilusão é uma espécie de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e ao afecto por algumas pessoas que nos são mais próximas. A nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos desta prisão ampliando o nosso círculo de compreensão e de compaixão de modo a que abranja todas as criaturas vivas e o todo da Natureza na sua beleza”

- Einstein

“Na verdade, não estou seguro de que existo. Sou todos os escritores que li, todas as pessoas que encontrei, todas as mulheres que amei, todas as cidades que visitei”

- Jorge Luis Borges

domingo, 1 de dezembro de 2013

Independência, dependência ou interdependência de Portugal? Sobre o 1º de Dezembro



Tudo mudou. Comemora-se hoje o 1º de Dezembro, que passou a ser o dia da Dependência de Portugal. E é um não feriado, pois estamos também todos cada vez mais dependentes do trabalho escravo para os novos senhores do mundo. Sim, Portugal não é independente. Está colonizado. Pela Troika e pelos grandes blocos económico-financeiros mundiais, que desde há muito movem os cordelinhos das marionetas chamados governos portugueses.

Estamos colonizados como outrora fomos colonizadores. Na verdade só colhemos o que semeamos. Na Índia chamam “karma”, que nada tem a ver com destino, mas sim com “acção” criadora(a palavra tem a mesma raiz de “criar”) e seus resultados. Há 500 anos colonizámos,explorámos e escravizámos. Até 1974. Hoje somos colonizados, explorados e escravizados. E temos a sorte de ainda assim serem muito mais brandos connosco do que fomos com os indígenas de todas as latitudes.

Por outro lado, nunca fomos independentes, mas apenas menos dependentes. Nenhum humano, povo ou nação alguma vez foi independente. Todos fomos, somos e seremos interdependentes. Portugal foi sempre interdependente das múltiplas relações culturais,políticas e comerciais que manteve desde a fundação. E a partir da expansão marítima tornou-se cada vez mais dependente da cobiça que o fez abandonar o cuidado da terra natal para viver sucessivamente à custa do comércio do Oriente, das minas e dos escravos de África, do ouro do Brasil e, finalmente,dos subsídios europeus. Que enriqueceram uns poucos e lançaram na pobreza a maioria.

Agora estamos como estamos. Até que mudemos o “karma”, ou seja, até que mudemos a nossa atitude perante a vida e o mundo e o nosso agir. Sofridas as consequências dos erros que cometemos, há que não os repetir. Se durante cinco séculos causámos o sofrimento de tantos povos, matando, escravizando e explorando, façamos hoje o contrário. Ocupemos a primeira linha da solidariedade activa com todos os seres humanos de todos os povos, com todos os seres vivos e com o planeta. Ocupemos a vanguarda da defesa dos direitos humanos, dos animais e da Terra. Estejamos na frente da busca de alternativas a esta civilização violenta por cuja globalização fomos os primeiros responsáveis. E ocupemo-nos por fim do nosso rectângulo.Façamos deste país uma terra de cultura ética e universalista, desenvolvimento interior, justiça social, resiliência, sustentabilidade económica e consciência ecológica, regressemos aos nossos campos e mares, desenvolvamos as energias renováveis e estabeleçamos uma democracia participativa que nos liberte de uma classe política corrupta. Estejamos preparados para a falência do Euro ou da própria União Europeia e saibamos viver melhor com menos. Sejamos menos dependentes,sem a ficção de sermos independentes. Vivamos uma feliz interdependência com todos os povos, culturas e nações e prezemos a relação, não só e não necessariamente com os que falarem a mesma língua, mas com aqueles que forem mais sábios, éticos e justos. Sejamos cidadãos de todo o mundo, com os pés bem implantados nesta terra e o espírito-coração abertos a todo o universo.

A única missão de Portugal, de todas as nações e de todos os humanos é Despertar a consciência eo coração para o bem comum de todos os seres vivos. É a isso que Vieira, Pessoa e Agostinho da Silva chamaram “Quinto Império”, que não é outro império senão oda consciência desperta e do bom coração. Como escreve Fernando Pessoa no final da “Mensagem”:

É a Hora!

Valete, Fratres (Saúde,Irmãos)!

Paulo Borges

1 de Dezembro de 2013

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