terça-feira, 17 de junho de 2014

Felicidade e futebol


A única felicidade autêntica é a de ser. Colocá-la na dependência de algo que se pode ter ou não, do perder ou do ganhar, é condenar-se a uma constante insegurança, frustração e sofrimento. Milhões de portugueses estão desde ontem a provar uma vez mais isso, mas não parecem dispostos a aprender. (Des)educados para a competição entre nós e os outros, (des)educados para exultar com a vitória dos “nossos” e a derrota dos outros, (des)educados para nos identificarmos com heróis de penteados e barbas exóticas e capas de revista e nos demitirmos de termos vidas heróicas, numa crescente ânsia de emoções e glórias vãs para anestesiar o profundo mal-estar psicológico e social, somos cada vez mais uma sociedade infantilizada, de costas voltadas para a sabedoria ou a sua busca (paga-se caro expulsar a filosofia dos currículos escolares e rotulá-la de “inútil” quando uma filosofia prática, um modo de vida ético-filosófico, é aquilo de que mais necessitamos). Não perceber que viver obcecado com o ganhar e o perder é ser um eterno perdedor chama-se na Índia “samsara”, mas em Português basta dizer “parvoíce”. Com ela, em Portugal ou na Alemanha, são sempre os mesmos que “ganham”: a indústria do entretenimento ao serviço do sistema (mais rentável e mais eficaz do que a repressão violenta), a máfia do futebol e a indústria da cerveja.

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