Blogue pessoal de Paulo Borges. Um espaço em prol do despertar da consciência e de um novo paradigma cultural, ético-político e civilizacional, centrado no bem comum de todos os seres, humanos e não-humanos, e da Terra.
“Sou feito da inteira evolução da Terra; sou um microcosmo do macrocosmo. Nada há no universo que não esteja em mim. O inteiro universo está encapsulado em mim, como uma árvore numa semente. Nada há ali fora no universo que não esteja aqui, em mim. Terra, ar, fogo, água, tempo, espaço, luz, história, evolução e consciência – tudo está em mim. No primeiro instante do Big Bang eu estava lá, por isso trago em mim a inteira evolução da Terra. Também trago em mim os biliões de anos de evolução por vir. Sou o passado e o futuro. A nossa identidade não pode ser definida tão estreitamente como ao afirmar que sou inglês, indiano, cristão, muçulmano, hindu, budista, médico ou advogado. Estas identidades rajásicas são secundárias, de conveniência. A nossa identidade verdadeira ou sáttvica é cósmica, universal. Quando me torno consciente desta identidade primordial, sáttvica, posso ver então o meu verdadeiro lugar no universo e cada uma das minhas acções torna-se uma acção sáttvica, uma acção espiritual”
“Um ser humano é parte do todo por nós chamado “universo”, uma parte limitada no tempo e no espaço. Nós experimentamo-nos, aos nossos pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto – uma espécie de ilusão de óptica da nossa consciência. Esta ilusão é uma espécie de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e ao afecto por algumas pessoas que nos são mais próximas. A nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos desta prisão ampliando o nosso círculo de compreensão e de compaixão de modo a que abranja todas as criaturas vivas e o todo da Natureza na sua beleza”
- Einstein
“Na verdade, não estou seguro de que existo. Sou todos os escritores que li, todas as pessoas que encontrei, todas as mulheres que amei, todas as cidades que visitei”
- Jorge Luis Borges
sexta-feira, 6 de janeiro de 2017
Amai tudo
A bordo do barco para o Barreiro, rodeado de todo o mundo e ninguém, o Bem-Aventurado manteve-se recolhido em silêncio e o silêncio converteu-se num murmúrio:
“Em verdade, em verdade vos digo que tudo é sagrado. Este rio é sagrado e sagradas são as terras que banha. Sagrados sois vós e tudo o que percepcionais, ó esquecidos. Amai pois cada vaga e cada grito de gaivota, cada pedra da calçada e cada animal de rua, cada nuvem que passa e cada brisa que vos alisa o rosto. Amai muito tudo, pois tudo, mais do que próximo, vos é íntimo. Amai tudo, pois se não amardes tudo não amareis e vereis que sois também o Pai-Mãe, a Presença que em tudo se oferece. Amai tudo, pois se não amardes tudo jamais vos amareis a vós mesmos”.
Continuou recolhido em silêncio. E à sua volta todos continuaram absortos nos telemóveis, auscultadores, jornais, livros, pensamentos e preocupações.
Uma gaivota gritou no céu anoitecido e a sirene do barco soou, pois havia muito nevoeiro.
~ Sutra-Evangelho de Lisboa, III, 13.
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