Blogue pessoal de Paulo Borges. Um espaço em prol do despertar da consciência e de um novo paradigma cultural, ético-político e civilizacional, centrado no bem comum de todos os seres, humanos e não-humanos, e da Terra.
“Sou feito da inteira evolução da Terra; sou um microcosmo do macrocosmo. Nada há no universo que não esteja em mim. O inteiro universo está encapsulado em mim, como uma árvore numa semente. Nada há ali fora no universo que não esteja aqui, em mim. Terra, ar, fogo, água, tempo, espaço, luz, história, evolução e consciência – tudo está em mim. No primeiro instante do Big Bang eu estava lá, por isso trago em mim a inteira evolução da Terra. Também trago em mim os biliões de anos de evolução por vir. Sou o passado e o futuro. A nossa identidade não pode ser definida tão estreitamente como ao afirmar que sou inglês, indiano, cristão, muçulmano, hindu, budista, médico ou advogado. Estas identidades rajásicas são secundárias, de conveniência. A nossa identidade verdadeira ou sáttvica é cósmica, universal. Quando me torno consciente desta identidade primordial, sáttvica, posso ver então o meu verdadeiro lugar no universo e cada uma das minhas acções torna-se uma acção sáttvica, uma acção espiritual”
“Um ser humano é parte do todo por nós chamado “universo”, uma parte limitada no tempo e no espaço. Nós experimentamo-nos, aos nossos pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto – uma espécie de ilusão de óptica da nossa consciência. Esta ilusão é uma espécie de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e ao afecto por algumas pessoas que nos são mais próximas. A nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos desta prisão ampliando o nosso círculo de compreensão e de compaixão de modo a que abranja todas as criaturas vivas e o todo da Natureza na sua beleza”
- Einstein
“Na verdade, não estou seguro de que existo. Sou todos os escritores que li, todas as pessoas que encontrei, todas as mulheres que amei, todas as cidades que visitei”
- Jorge Luis Borges
terça-feira, 10 de maio de 2016
O túnel do Marão e a barbárie do "progresso"
Ainda sobre o túnel do Marão, um grande texto de Jorge Leandro Rosa. É espantoso como vivemos enfeitiçados pela barbárie do "progresso".
"O PAÍS TRESPASSADO
Um jornalista deu-nos involuntariamente o retrato de um país terraplanado no corpo e no espírito: «Amanhã cai o Marão, inaugura-se o túnel do dito e com ele Trás-os-Montes fica mais plano, as gentes de Vila Real, Bragança e do Alto Douro ficam menos atrás dos montes e mais perto do litoral» (JN, 6 de Maio).
O consenso em torno dos túneis e viadutos é a congregação das vidas desesperadas que já abandonaram a viagem vertical. As existências querem-se planas e planificadas. Os montes, que abandonámos há muito, tornam-se meros paredões. A errância, fonte da experiência do ser que caminha, reduziu-se à auto-mobilidade. Este consenso assinala a vida restante, a definição do que é possível ser-se em Portugal: vidas litorais que já não entram pelo mar adentro.
Os túneis e os viadutos são um retrato da esperança de vida por estas paragens: tudo está pronto para a milagrosa circulação das mercadorias; tudo existe em função da circulação do mundo, sob a forma de coisas transaccionáveis, nestas regiões; tudo assenta nas máquinas que tudo movem, embora elas não nos possam dizer o porquê desses movimentos. Essa mobilização de tudo já pertence ao passado e dela vemos as últimas manifestações, agora que a energia deixou de poder ser tomada como infinita.
Escavar túneis, lançar viadutos, significa também que nos tornámos cegos às formas rebeldes, inumanas no fervor, que nos recordam o incompreensível das autonomias como parte do que merece ser vivido. «O fervor, propriedade variável segundo as épocas, abandonou os olhos modernos», escreveu Erri De Luca. Uma montanha que se trespassa é a inscrição de uma das formas da ignorância: a ignorância da terra anímica.
Aquilino, um dos que ainda compreenderam o Marão: «Esta serra mostra realmente uma fisionomia revel, zangada com as estrelas, escapa à bondade divina, diferente das outras» (in O Homem da Nave). Recusemo-nos, nós também, a certas bondares humanas"
Jorge Leandro Rosa
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