Blogue pessoal de Paulo Borges. Um espaço em prol do despertar da consciência e de um novo paradigma cultural, ético-político e civilizacional, centrado no bem comum de todos os seres, humanos e não-humanos, e da Terra.
“Sou feito da inteira evolução da Terra; sou um microcosmo do macrocosmo. Nada há no universo que não esteja em mim. O inteiro universo está encapsulado em mim, como uma árvore numa semente. Nada há ali fora no universo que não esteja aqui, em mim. Terra, ar, fogo, água, tempo, espaço, luz, história, evolução e consciência – tudo está em mim. No primeiro instante do Big Bang eu estava lá, por isso trago em mim a inteira evolução da Terra. Também trago em mim os biliões de anos de evolução por vir. Sou o passado e o futuro. A nossa identidade não pode ser definida tão estreitamente como ao afirmar que sou inglês, indiano, cristão, muçulmano, hindu, budista, médico ou advogado. Estas identidades rajásicas são secundárias, de conveniência. A nossa identidade verdadeira ou sáttvica é cósmica, universal. Quando me torno consciente desta identidade primordial, sáttvica, posso ver então o meu verdadeiro lugar no universo e cada uma das minhas acções torna-se uma acção sáttvica, uma acção espiritual”
“Um ser humano é parte do todo por nós chamado “universo”, uma parte limitada no tempo e no espaço. Nós experimentamo-nos, aos nossos pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto – uma espécie de ilusão de óptica da nossa consciência. Esta ilusão é uma espécie de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e ao afecto por algumas pessoas que nos são mais próximas. A nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos desta prisão ampliando o nosso círculo de compreensão e de compaixão de modo a que abranja todas as criaturas vivas e o todo da Natureza na sua beleza”
- Einstein
“Na verdade, não estou seguro de que existo. Sou todos os escritores que li, todas as pessoas que encontrei, todas as mulheres que amei, todas as cidades que visitei”
- Jorge Luis Borges
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
O que é a liberdade?
Imagem: Xenofonte
Não há verdadeira liberdade senão como libertação: dos instintos, dos hábitos, dos caprichos, do egocentrismo, do desejo de fama, poder, riqueza ou prazer, do desejo de agradar, agredir ou ofender, da indiferença. A liberdade só é livre quando se exerce com sabedoria, amor e compaixão, não só por uns, mas por todos, por todos os seres vivos. O exercício da liberdade supõe auto-contenção por critérios éticos e até estéticos. Só é livre o que é capaz de renunciar à própria liberdade por um bem superior: o bem de todos e a própria libertação. A verdadeira liberdade é aquela que é capaz de renunciar e transcender a si mesma. A liberdade só é absoluta quando não se absolutiza.
Livre não é quem diz ou faz o que lhe apetece, impelido e escravizado pelos motivos acima indicados. Livre é quem faz o que quer, mas apenas quando a vontade é movida por sabedoria, amor e compaixão, ou seja, pela consciência fraterna e activa do que é melhor fazer para o bem de todos a cada instante, em função de cada situação e circunstâncias concretas. Neste sentido só faz o que quer quem não faz o que lhe apetece e quem faz o que lhe apetece nunca faz o que quer.
O exercício consciente e ético da liberdade não se pode jamais restringir totalmente a uma moral e a uma jurisdição (por mais que estas sejam necessárias, enquanto os humanos não forem plenamente livres), pois não se pode codificar em normas positivas que sejam absoluta e formalmente válidas e aplicáveis em todas as circunstâncias diferenciadas e concretas. O exercício consciente e ético da liberdade implica a intenção e a criatividade de fazer em cada situação o melhor possível em função dos envolvidos e das consequências de cada acto – mental, verbal e físico - para o bem comum de todos os seres. Por isso e por vezes o melhor possível pode ser não fazer nada, se disso vier um maior bem para todos.
O que o exercício consciente e ético da liberdade jamais pode dispensar, seja para agir, seja para não (re)agir, é o que três sábios gregos antigos, discípulos de Sócrates – Isócrates, Xenofonte e Platão – , chamaram “enkrateia”, o poder sobre si, o autocontrole, o autodomínio. O contrário do que Aristóteles designou como “akrasia”, a ausência de poder sobre si, o descontrolo, quando se faz o que sabe e sente não ser o melhor, dominado pela busca de prazer e satisfação imediatos.
No presente debate sobre a liberdade e a liberdade de expressão, verifica-se que a sabedoria dos antigos faz muita falta à confusão e à arrogância dos (pós-)modernos.
13.1.2015
Olá Paulo!
ResponderEliminarNa Calheta do Nesquim, na ilha do Pico, há um dizer saber "Faz o que te apetece", e é um fazer "o que quer, mas apenas quando a vontade é movida por sabedoria, amor e compaixão, ou seja, pela consciência fraterna e activa do que é melhor fazer para o bem de todos a cada instante, em função de cada situação e circunstâncias concretas." E o faz o que te apetece, "por vezes o melhor possível pode ser não fazer nada, se disso vier um maior bem para todos." Sabedoria dos antigos daquela dimensão, filosofando em visão da imensidão do mar, o universo perto de nós (José Saramago), e vejo-me sentindo as tuas palavras! Muito grata!
Partilho do princípio da universalidade. "Em que ser-se homem é ser-se livre. Mas ser-se é homem é ser-se antes demais, responsável, pois que ao escolhermo-nos a nós escolhemos o homem" - Sartre; " O existencialismo é um humanismo". Grato pelo texto :-) Paulo David
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