quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Conta-me uma história


Mal começamos a falar pedimos que nos contem uma história. E os pais ou avós, se ainda têm o tempo e a paciência para o fazer, em vez de nos abandonarem em frente da televisão ou dos jogos electrónicos, começam: “Era uma vez um Príncipe / uma Princesa...”. E nós imaginamos, ou seja, vivemos como mais real que o real, que somos esse Príncipe/Princesa, vivemos o maravilhoso de tudo ser possível. É a Idade de Ouro da infância. Que se começa a desvanecer quando os pais ou o professor, ansiosos por fazer da criança um adulto igual a eles, nos contam uma outra história: “1 + 1 = 2”, “3 x 3 = 9”. Começamos progressivamente a acreditar que só esta é real e um dia sorrimos meio envergonhados de haver acreditado na primeira. É a história que ainda hoje nos contam economistas, políticos e demais pessoas de bom senso. O mito que passamos a incarnar nas nossas vidas. O que fez de nós “homenzinhos”. A chave de acesso à idade da razão e a ignorada origem da nossa decadência e de todos os nossos problemas. Bem-aventurados os que lhe escapam, pois deles é o Reino da Criatividade.

(inspirado em Rabindranath Tagore, Le Prince Charmant et quatorze autres contes)

2 comentários:

  1. A imaginação é uma asa, mas os pássaros não têm a faculdade da imaginação :-)

    Escreve uma história dessas em extinção. ( vá lá!)

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  2. Vou escrevendo algumas, a começar pela minha vida :)

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