sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A busca do bem-estar é a nova religião de massas


Vivemos numa civilização obcecada pelo bem-estar físico, emocional e mental. A busca do bem-estar é a nova religião de massas e é por isso o centro de uma nova indústria e de um novo comércio. Vende-se, compra-se e consome-se bem-estar, associado a novas mercadorias: a nova onda é por via dos produtos naturais, da vida ao ar livre, da comida saudável, do yoga e da meditação. Tudo bem. Isto é melhor do que o contrário, mas o que é curioso é que esta busca apenas revela e reproduz um profundo mal-estar. Só uma sociedade triste, cansada, doente e decadente anseia a todo o custo estar bem. E só anseia a todo o custo estar bem uma sociedade confusa, que não vê que a ansiedade e a obsessão pelo bem-estar é já um enorme mal-estar. E que não vê que o bem-estar que se procura, por via disto ou daquilo, é sempre fugaz e gerador de novas dependências (incluindo a hora de yoga ou meditação diários) enquanto não vier da descoberta do bem e da alegria que há na simples experiência de ser. E de amar, pois sem isso não há alegria profunda. Sem isso, há apenas busca de bem-estar. Em geral, muito egocêntrica.

“A alegria é o fundo do ser. Verdade que nada tem de psicológico: é questão de fundo e não de estado; de ser e não de humor. Se a verdadeira alegria residisse na mutável ondulação das minhas emoções, ela seria tal como elas turva, instável, superficial e sem cessar mesclada de artifícios”

~ Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte. Essai sur une joie qui dérange, 2011, p.185.

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