segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Teremos política?


“Filosofia e política nascem juntas. (...) Quando digo filosofia não me refiro a sistemas, nem a livros, nem a raciocínios escolásticos. Trata-se primeiro e antes de tudo do questionamento da representação instituída do mundo, do questionamento dos ídolos da tribo no horizonte de uma interrogação ilimitada. Quando digo política não falo de eleições municipais nem presidenciais; a política, no verdadeiro sentido do termo, é o questionamento da instituição efectiva da cidade, é a actividade que trata de encarar lucidamente a instituição social como tal”

- Cornelius Castoriadis, “Natureza e valor da igualdade”.

Teremos política? Temos Estado, sociedade, instituições culturais, políticas e económicas, presidente, governo, partidos e eleições, mas teremos realmente política? Temos realmente um questionar autêntico, desinteressado e profundo do sentido de haver Estado, sociedade, instituições, presidente, governo, partidos e eleições? Interrogamo-nos verdadeiramente sobre o sentido, a finalidade e a orientação de tudo isto? Ou limitamo-nos, mesmo quando nos presumimos diferentes e alternativos, a reproduzir a representação instituída do mundo e a venerar antigos e novos ídolos da tribo, na ausência de horizonte de uma completa recusa de os/nos interrogarmos? Paga-se muito caro a recusa da filosofia, porque sem ela tudo se esvazia em acção irreflectida ao serviço de rotinas ou de interesses pouco confessáveis, sobretudo quando disfarçados de idealismo e do serviço de causas nobres.

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