quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A essência do nosso tempo é a ejaculação precoce. Felizes os raros que ainda cultivam a arte do silêncio, do pasmo e da lentidão.


Nesta sociedade de obsessão narcisista com a visibilidade, a eficácia e o imediato, há cada vez menos lugar para o Eros, para a lenta e morosa relação com o íntimo, o secreto e o profundo, para a aspiração de ir além da forma, das imagens e das palavras e acariciar os luxuriantes e silenciosos recônditos do mundo, para os olhos e asas bem abertos na demanda e no espanto ante esse não sei quê palpitante em tudo o que jamais acontece. A essência do nosso tempo é a prostituição e a pornografia, não tanto a das ruas e bordéis ou dos filmes, vídeos e revistas, mas a da pressa e incontinência publicitária, política, tecnológica e mediática, a deste formigueiro esquizofrénico de subgente acotovelando-se por aparecer, ser visível, tornar-se conhecida, ter opinião, vender-se, consumir e ser consumida, inscrever o seu nome de nada nos fogos fátuos das notícias, dos palcos e das tribunas, bolas de sabão e castelos de areia logo desfeitos pelos ventos e marés da vida. A essência do nosso tempo é a ejaculação precoce. Felizes os raros que ainda cultivam a arte do silêncio, do pasmo e da lentidão.

Imagem: Eros e Psique, de Antonio Canova

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