quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O fim da civilização humanista e antropocêntrica e os novos/velhos riscos

Um dos sinais mais evidentes do fim da civilização humanista e antropocêntrica, pelo menos na sua versão europeia-ocidental, é que o ser humano está desiludido, cansado e desgostoso de si e já não acredita em si mesmo. Apesar de se comportar ainda, por medo, hábito e inércia, como um deus na terra, no fundo prefere tudo a si próprio: os animais, a natureza, os astros, os espíritos, os deuses, Deus. O ser humano, na verdade, começa enfim a ver que ele próprio não existe em si e por si, que a sua identidade nada é senão em relação de estreita interdependência com essas formas de alteridade. Isto é positivo, em termos de abertura da consciência, mas o risco é absolutizar uma ou várias destas alteridades e acreditar que elas possam também existir em si e por si. O risco é sair do obscurantismo humanista e antropocêntrico para cair nas sombras animalistas, naturalistas, astrológico-deterministas, animistas, politeístas ou monoteístas. O risco é manter-se a ilusão de que há algum centro ou domínio privilegiado da realidade e algo a que nos agarrarmos. O risco é não despertarmos para a liberdade do grande vazio luminoso e compassivo que se ri de todas as quimeras da mente.

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