quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Somos demasiado limitados. A urgência de uma espiritualidade laica e de uma política da atenção plena

“O mundo que nos rodeia é completamente sonoro e, dessa paisagem de imensidão, o ouvido humano capta apenas uma parte. Tomando como referência a audição humana, chamamos infrassons aos sons de frequência inferior a 20 hertz (a frequência mais grave que captamos). Apesar do homem não conseguir ouvi-los, um elefante colhe-os facilmente e sem ter de encostar a orelha à terra, pois as suas patas captam igualmente ondas sonoras. Designamos também ultrassons aos sons para nós inaudíveis por terem frequência acima de 20 000 hertz (a frequência mais aguda a que chegamos). Contudo, um cão ou um gato ouvem o dobro desse limite, a nosso lado”

- José Tolentino Mendonça, A Mística do Instante. O tempo e a promessa, Prior Velho, Paulinas Editora, 2014, p.30.

Somos demasiado limitados, em termos sensoriais e mentais. Só captamos da realidade o pouco que podemos, porque é o pouco que nos interessa para satisfazer o nosso egocentrismo utilitário e o nosso grosseiro instinto de manipulação e sobrevivência. É essa a raiz profunda de todos os nossos problemas, mentais, sociais e ambientais. É por isso que a macropolítica convencional nada muda. É por isso que é urgente uma micropolítica da consciência, uma política da abertura e expansão da consciência e do coração, uma política da atenção plena. É por isso que é urgente uma espiritualidade laica, sem crenças, dogmas ou doutrinas. Uma espiritualidade pura e radicalmente empírica, nascida da íntima reconexão com tudo o que nos rodeia, com a imensidão sensível e invisível de cada instante.

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