terça-feira, 9 de setembro de 2014

A meditação laica como a mais profunda e eficaz forma de activismo ambiental, social e político

A raiz da crise da actual civilização é mental ou espiritual, pois consiste numa distorção da percepção da realidade, que nos faz crer que existimos separados dos demais seres vivos e do mundo. O resultado disso é a história da civilização, com todo o seu trágico cortejo de sofrimento, opressão e violência, contra os humanos, os animais e a natureza, que tem hoje o seu auge. Não basta pois combater os sintomas pelos meios convencionais. Precisamos de uma mutação radical do nosso ADN interior, de uma transformação profunda do modo como nos percepcionamos a nós mesmos, aos outros e ao mundo. Precisamos de um outro estado de consciência, não-dual, em que eu e outro sejam vistos como os dois aspectos de uma mesma realidade e não como entidades isoladas. Precisamos da experiência do mundo como um organismo vivo do qual todos os seres e fenómenos são manifestações inseparáveis.

E para isso, a partir da informação e da reflexão, só conheço uma via rápida e directa: a meditação laica. Sem dogmas religiosos, especulações intelectuais ou exortações morais, é ela que leva à experiência directa da não-separação eu-outro e ao amor-compaixão universais por tudo quanto existe, vive e sente. Por isso a vejo como o centro de uma nova ético-espiritualidade laica, transversal a crentes e descrentes, que está a emergir em todo o mundo.

Por isso vejo também a meditação – sentada e em movimento, na sua inseparável vertente contemplativa e activa - como a forma mais profunda e eficaz de serviço e activismo ambiental, social e político, pois estarmos e vivermos em paz, felizes com o ser e não com o ter, pensando, falando e agindo sempre pelo bem de tudo e de todos, é o caminho certo para uma sociedade solidária, de abundância frugal, livre do mito do crescimento económico ilimitado, onde o bem de todos - humanos, animais e natureza – se considere como o nosso próprio bem. E para isso basta começar por sentar e entrar na paz da respiração. Isso já é agir e a fonte de toda a acção esclarecida, sem a complicação de mil actividades e projectos e sem depender de governos, eleições e lutas partidárias. Sem depender de tudo aquilo que vem precisamente da dualidade, da confusão e da violência e sempre as reproduz.

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