quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

As razões pelas quais com o actual sistema económico jamais haverá paz para os humanos, os animais e o planeta


“Por causa do lucro, em qualquer dado momento, a quantidade de dinheiro devido é maior do que a quantidade de dinheiro já existente. Para fazer novo dinheiro a fim de manter o inteiro sistema a funcionar, […] temos de criar mais “bens e serviços”. O principal modo de o fazer é começar a vender algo que outrora era gratuito. É começar a converter florestas em madeira, música em produto, ideias em propriedade intelectual, reciprocidade social em serviços pagos.

Estimulada pela tecnologia, a mercantilização de bens e serviços inicialmente não-monetários acelerou ao longo dos últimos séculos, ao ponto de hoje muito pouco ser deixado fora da esfera monetária. As vastas provisões, de terra ou de cultura, foram isoladas e vendidas – tudo para acompanhar o ritmo do crescimento exponencial do dinheiro.

[...]

O imperativo do crescimento perpétuo implícito no dinheiro baseado no lucro é o que impele a implacável conversão da vida, do mundo e do espírito em dinheiro. Completando o círculo vicioso, quanto mais convertemos vida em dinheiro, mais dinheiro necessitamos para viver. A usura, e não o dinheiro, é a raiz proverbial de todo o mal.

[...]

Devido à dívida nutrida pelo lucro acompanhar toda a nova emissão de dinheiro, em qualquer momento dado a quantidade da dívida excede a quantidade de dinheiro existente. A insuficiência do dinheiro impele-nos à competição uns com os outros e remete-nos para um construído e constante estado de escassez. É como o jogo das cadeiras, em que nunca há espaço suficiente para que todos estejam seguros. A pressão da dívida é endémica ao sistema. Enquanto alguns podem pagar as suas dívidas, o sistema global requer um geral e crescente estado de endividamento.

A constante e subjacente pressão da dívida significa que haverá sempre pessoas inseguras ou desesperadas – pessoas sob pressão para sobreviver, prontas a abater a última floresta, apanhar o último peixe, vender a alguém sapatilhas, liquidar seja qual for o capital social, natural, cultural ou espiritual ainda disponível. Nunca poderá haver um tempo em que atinjamos o “suficiente” porque, num sistema de dívida baseado no lucro, o crédito não apenas troca “bens presentes por bens no futuro”, mas bens presentes por mais bens no futuro. Para servir a dívida ou apenas para viver, ou tiramos a riqueza existente de uma outra pessoa (daí, a competição) ou criamos “nova” riqueza extraindo-a das provisões comuns”

- Charles Einsenstein, Sacred Economics, Berkeley, Evolver Editions, 2011, pp.100-103.

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