“Nenhum político deve esperar que lhe agradeçam ou
sequer lhe reconheçam o que faz; no fim de contas era ele quem devia agradecer pela
ocasião que lhe ofereceram os outros homens de pôr em jogo as suas qualidades e
de eliminar, se puder, os seus defeitos; o seu ideal deveria ser o de passar anónimo
e o de ver com olhar nem sequer indiferente mas agradecido que atribuam a outro
o que ele próprio realizou; as tarefas lhe devem ser difíceis porque é o fácil
o predilecto reino do Diabo; e se, no fim da jornada, reconhecer que não
realizou qualquer sonho que por acaso tenha, console-o ter possibilitado a realização
dos sonhos de muitos outros, que, por serem pequenos em âmbito, não eram talvez
menores em intensidade, e é isto o que verdadeiramente conta. Político não veio
ao mundo para se satisfazer a si próprio: veio para se modelar, veio para se
libertar do que lhe era inferior, e não representa num determinado campo senão
o que devia ser feito por todos os homens, qualquer que seja a sua
especialidade”
- Agostinho da Silva, “As Aproximações” (1960), Textos
e Ensaios Filosóficos, II, pp.62-63.
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