“Muito
para além do seu impacto económico, o colonialismo teve um papel determinante
na formação da cultura europeia e muito especificamente da cultura política. A
ideia da missão civilizadora conferiu à cultura europeia um complexo de superioridade
que com o tempo se transformou num traço incapacitante. A superioridade da
religião (cristianismo) e do conhecimento (ciência moderna) justificou o privilégio
de ensinar o mundo a troco da sua exploração colonial. O exercício prolongado
deste privilégio conformou de tal maneira o ethos
europeu que incapacitou a Europa para imaginar relações horizontais entre
diferenças culturais, religiosas, étnicas ou epistemológicas. Daí que se tenha
tornado inimaginável para a Europa dar valor intrínseco a outras experiências
ou culturas do mundo extra-europeu e aprender com elas. Houve muita curiosidade
pela alteridade mas foi sempre instrumental, para a transformar em matéria-prima
que alimentava e reforçava a superioridade do cristianismo, da cultura
europeia, e da ciência moderna”
-
Boaventura de Sousa Santos, Portugal. Ensaio
contra a autoflagelação, Coimbra, Almedina, 2011, pp.134-135.
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