sexta-feira, 29 de março de 2013

"A ideia da missão civilizadora conferiu à cultura europeia um complexo de superioridade que com o tempo se transformou num traço incapacitante"




“Muito para além do seu impacto económico, o colonialismo teve um papel determinante na formação da cultura europeia e muito especificamente da cultura política. A ideia da missão civilizadora conferiu à cultura europeia um complexo de superioridade que com o tempo se transformou num traço incapacitante. A superioridade da religião (cristianismo) e do conhecimento (ciência moderna) justificou o privilégio de ensinar o mundo a troco da sua exploração colonial. O exercício prolongado deste privilégio conformou de tal maneira o ethos europeu que incapacitou a Europa para imaginar relações horizontais entre diferenças culturais, religiosas, étnicas ou epistemológicas. Daí que se tenha tornado inimaginável para a Europa dar valor intrínseco a outras experiências ou culturas do mundo extra-europeu e aprender com elas. Houve muita curiosidade pela alteridade mas foi sempre instrumental, para a transformar em matéria-prima que alimentava e reforçava a superioridade do cristianismo, da cultura europeia, e da ciência moderna”

- Boaventura de Sousa Santos, Portugal. Ensaio contra a autoflagelação, Coimbra, Almedina, 2011, pp.134-135.

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