sexta-feira, 29 de julho de 2016

A ocupação da mente pela língua


Protestamos e revoltamo-nos contra todo o tipo de opressões e ocupações, mas permanecemos dóceis à ocupação, desde a infância, da mente pela língua que falamos porque os nossos pais a falavam e que nos leva a acreditar que o real é tal como a grosseira simplificação da gramática e dos léxicos o leva a supor... Temos a mente ocupada pela ficção de haver sujeitos, objectos e acções e disso ninguém se queixa. Essa é a grande questão, a montante de acordos ou desacordos ortográficos. É porque a língua é um ocupante estranho no território virgem e ilimitado da consciência que surge a insurreição poética e a libertação do silêncio místico.

“Há inefável no espírito, ele mesmo território ocupado a partir da idade de dezoito meses pela língua nacional após haver vivido engolido na emoção maternal vocal na qual residia”

~ Pascal Quignard, Mourir de Penser. Dernier Royaume IX, Paris, Gallimard, 2014, p.51.

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