quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Castelos de areia, natureza e civilização


O espectáculo do mundo é o melhor livro e o maior ensinamento. Há pouco na praia observei um grupo de miúdos e graúdos que laboriosamente, durante horas, construiu um belo e imponente castelo de areia encostado a um fragmento de rocha. Subitamente, a maré começou a encher e duas vagas maiores destruíram em poucos minutos o castelo que levou horas a construir. Só ficou a rocha.

Uma cena vulgar de praia que todos os Verões se repete. Mas não é uma imagem da ilusão da nossa civilização que tanto trabalho e sacrifício das nossas vidas nos custa todos os dias para se construir e reproduzir? Não é uma imagem da sua fragilidade e efemeridade? Com a diferença de que os construtores do castelo de areia sabiam que ele tinha uma vida curta e construíram-no por puro divertimento, enquanto nós alimentamos a ilusão de que o castelo de areia das nossas cidades, tecnociência, economia e sistemas políticos vai durar para sempre e não estamos preparados para sobreviver ao seu colapso. Mesmo quando a história nos ensina que todas as grandes civilizações ruíram e algumas sem deixar rasto. E mesmo quando a nossa civilização é um castelo de areia que se constrói destruindo as condições de sustentabilidade de toda a praia.

É belo ver seres humanos a construir castelos de areia na praia, mas é terrível ver homens de ciência, economistas e políticos a pretenderem e prometerem construir uma civilização duradoura contrária às leis da própria Terra. O nosso problema é querermos uma natureza conforme aos desejos da civilização e não uma civilização conforme às leis da natureza, a começar pela da interdependência e impermanência de tudo.

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