sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Bem-aventurados os que param

Vivemos cheios de pressa. Confundimos acção com agitação, sem rumo nem orientação ou com objectivos mesquinhos de poder, prestígio, visibilidade, sucesso e lucro. Saltamos de experiência para experiência, de sensação para sensação, de pensamento para pensamento, para obter e acumular o que sempre nos foge mais por entre as mãos. Perdemos a capacidade do vagar e da demora contemplativos. Não damos por nada no afã de dar por tudo. Nada aprofundamos. Em nada nos detemos. Fazemos zapping por nós mesmos e pelo mundo.

Bem-aventurados os que param. Na alegria de ser. No amor profundo de tudo. Bem-aventurados os que têm tempo e redescobrem a plenitude nas coisas mínimas: num raio de sol a lamber uma esquina, na sombra esquiva de uma folha, no voo grácil de uma ave, na frescura de uma brisa, no mistério de um olhar, no sabor de um gole de chá. Bem-aventurados os lentos saboreadores da vida. Bem-aventurados os que renunciam à violência do sempre diferente, mais e melhor. Bem-aventurados os que celebram. Bem-aventurados os que não produzem nem consomem.

Nesses um mundo intemporal se preserva. Nesses um mundo novo germina.

#outroportugalexiste

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