segunda-feira, 13 de julho de 2015

A única alternativa é O Movimento para um despertar global


"(falando sobre as mudanças climáticas) Está cada vez mais claro que o problema central é um modo de produzir cuja principal dinâmica é a transformação da natureza viva em mercadorias mortas, o que causa imensas perdas no processo. O motor deste processo é o consumo - ou, melhor dito, o excesso de consumo - e o motivo é o benefício ou a acumulação de capital; numa palavra, o capitalismo. Foi a generalização deste tipo de produção no Norte, e a sua expansão do Norte para o Sul durante os últimos trezentos anos, o que causou a queima acelerada de combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo e uma rápida deflorestação, dois dos processos humanos chaves que estão por detrás do aquecimento global.

Uma forma de considerar o aquecimento global é vê-lo como uma manifestação chave da última etapa de um processo histórico: o da privatização dos bens comuns por parte do capital. A crise climática tem que ser vista, assim, como a expropriação do espaço ecológico das sociedades menos desenvolvidas ou mais marginalizadas por parte das sociedades capitalistas avançadas"

- Jorge Riechmann, Interdependientes y Ecodependientes. Ensayos desde la ética ecológica (y hacía ella), Proteu, 2012, p.293.

As mutações climáticas, o esgotamento dos combustíveis fósseis, dos solos e da água potável, a destruição da biodiversidade e o sofrimento imposto a milhões de seres humanos e não-humanos - com destaque para os animais sacrificados para os lucros da indústria da carne e da pesca - mostram que o actual modelo de crescimento económico é insustentável e eticamente inaceitável e que para salvar a vida neste planeta já não bastam as reformas de cosmética das políticas ambientais governamentais, mas que urge uma mutação profunda de todo o sistema cultural, comportamental e socioeconómico. Depois do aburguesamento, após a segunda Guerra Mundial, da população e dos sindicatos europeus, deslumbrados com o acesso ao consumo e ao suposto conforto material, é um bom e claro sinal da história que cada vez mais movimentos cívicos e sociais, independentes dos sindicatos e dos partidos políticos, coloquem em questão o macrossistema político-económico e o microssistema dos nossos estilos de vida individuais. O que está hoje em causa e em curso não são mudanças superficiais, mas sim uma mutação da civilização, como a história ensina que acontece sempre que mudam os recursos energéticos disponíveis.

Uma das principais razões pelas quais não nos mobilizamos em larga escala e imediatamente, como seria desde já necessário, para evitar as consequências trágicas, a curto prazo, das mutações climáticas, da destruição da biodiversidade e do consumo de carne e lactícinios, é que não há um inimigo externo a combater, pois o inimigo aqui somos nós próprios. Se fôssemos invadidos por uma nação estrangeira ou por extraterrestres mobilizávamo-nos como em tempo de guerra, mas quem se mobilizará contra si mesmo, contra a sua ignorância e hábitos ancestrais, enquanto não sofrer directamente as consequências todavia anunciadas por todos os relatórios científicos? E sobretudo quando a mudança não interessa à economia global de mercado, às grandes corporações industriais e aos governos por elas controlados?

Temo que mais uma vez, como na véspera das grandes Guerras Mundiais, nos encaminhemos para ser vítimas da pior cegueira, a de não querer ver. A única alternativa é O Movimento para um despertar global, que implemente uma mutação radical do modelo de crescimento económico, transitando para uma autocontenção da produção, do transporte e do consumo e para um sistema público de energias renováveis numa economia baseada em recursos e não no lucro. Um ecosocialismo democrático e não antropocêntrico baseado no respeito por todas as formas de vida.

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