segunda-feira, 27 de abril de 2015

1 de Maio - 16h - Terreiro do Paço - Sentar em Paz e Silêncio por alternativas à cultura do trabalho, da produção e do consumo


1 de Maio de 2015
Terreiro do Paço – Lisboa – 16h

“O homem não nasce para trabalhar, nasce para criar, para ser o tal poeta à solta”
- Agostinho da Silva

A presente civilização assenta em dois dos mitos mais nocivos de sempre: a separação entre o ser humano e a natureza e o valor do trabalho, da produção e do consumo como fins em si mesmos. Desconectada da abundância da natureza e da harmonia dos seus ciclos vitais, vítima da perda da simplicidade e da multiplicação de necessidades artificiais e desejos fúteis, a civilização hoje globalizada presta culto à nova superstição e à grande ilusão do crescimento económico infinito num planeta com recursos naturais finitos. O trabalhismo, o produtivismo e o consumismo, preconizados pela maioria dos economistas e políticos de esquerda, centro e direita e alimentados pelos nossos hábitos e estilo de vida, são responsáveis pela generalização da escravatura da falta de tempo para ser, viver, amar, contemplar e criar, pela destruição da biodiversidade e da diversidade cultural, pelas alterações climáticas, pela poluição dos ares, águas e solos, pela mecanização, burocratização e hiperocupação da vida humana e pela industrialização, exploração e destruição da vida animal. Destruindo o tempo livre, os ecossistemas e as demais espécies, estamos a destruir-nos a nós mesmos. Passamos a vida a fugir do instante presente e de nós próprios, buscando freneticamente no exterior e em mil ocupações voltadas para a aquisição e a competitividade a paz e a felicidade que só podemos encontrar no interior, na generosidade e na cooperação. Sucumbimos numa “sociedade do cansaço”, onde os sintomas de ansiedade, stress, depressão, défice de atenção, esgotamento, mal-estar, comportamento antisocial e falta de sentido para a vida crescem a um ritmo galopante (com imensos custos sociais e públicos, o que faz disto uma questão política central). Somos uma civilização doente, numa crise terminal, por mais distracções, estímulos e prazeres fugazes que todos os dias se inventem para abafar os sintomas, preservar os poderes políticos e aumentar os lucros da banca e das corporações.

É em busca de alternativas a esta situação que, no Dia Mundial do Trabalhador, em vez de exigirmos a melhoria da condição de escravos, nos vamos Sentar em Paz e Silêncio meditativo e/ou reflexivo durante uma hora, vivendo a experiência do ócio / liberdade contemplativos, que nos permite voltar a atenção para dentro e ver como é também ou sobretudo no nosso íntimo que se enraízam os problemas pelos quais tendemos a responsabilizar apenas os outros. A atenção plena aos pensamentos e emoções, sem nos identificarmos com eles, permite ver as coisas noutra perspectiva, fora dos esquemas habituais. A liberdade contemplativa é também criativa e activa. Seguir-se-á assim uma troca de ideias e experiências sobre soluções positivas, justas e não-violentas para a actual crise, como o Rendimento Básico Incondicional (que assegure a todos opções de vida que não passem pelo trabalho assalariado), a transição para uma economia baseada em recursos por via do decrescimento sereno conducente a uma abundância frugal (Serge Latouche), o reconhecimento de direitos intrínsecos à natureza e a todos os seres vivos (que os preservem da ganância e da instrumentalização antropocêntrica), a introdução da meditação/atenção plena (mindfulness, o maior fenómeno contemporâneo, já descrito como “a grande revolução silenciosa do século XXI”, por promover estados de consciência mais calmos, claros, amorosos e compassivos, bem como imensos benefícios psicossomáticos cientificamente comprovados) na vida familiar, no sistema educativo, nos cuidados de saúde e no activismo, a criação de comunidades de educação e vida alternativa, mais saudáveis, éticas e resilientes, a promoção de formas de democracia directa, alternativas à democracia representativa e à partidocracia, a consideração de indicadores de desenvolvimento social alternativos ao Produto Interno Bruto como a Felicidade Interna Bruta, etc.

Sejamos objectores de consciência a esta civilização e exemplo da mudança que queremos ver no mundo. Traz a tua presença pacífica, silenciosa, amorosa e criativa e senta-te, medita, reflecte, dialoga e convive connosco.

Tal como em anos anteriores, apelamos a que outras cidades e povoações se associem a esta iniciativa, que em 2012 se estendeu a 16 cidades no Continente e Ilhas.

Um Outro Mundo é Possível e todos somos desde já os seus criadores

Círculo do Entre-Ser
2 de Abril de 2015

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