terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Uma pequena introdução à meditação


Sentamo-nos, para já apenas com a coluna vertebral bem direita, numa almofada no chão, sobre um tapete, ou numa cadeira. Se possível devemos evitar encostar a coluna, a não ser que haja alguma situação física que a isso nos obrigue. Nesse caso podemos usar o apoio necessário. Se estivermos numa cadeira, os pés ficam paralelos um ao outro. Se estivermos numa almofada, sentamo-nos com as pernas cruzadas na postura mais confortável, procurando que a almofada tenha a altura suficiente para erguer a região pélvica de modo a que haja uma maior abertura das pernas e os joelhos se aproximem o mais possível do tapete. Se por enquanto os joelhos não tocam o chão, não forçamos.

Fazemos três profundas inspirações e expirações, de modo a descontrair e dissipar tensões o mais possível e estamos sentados aqui e agora, abandonando todas as preocupações com o passado, o futuro e mesmo com o presente. Sentamo-nos pela primeira vez nas nossas vidas, com uma mente fresca e aberta à experiência de estarmos aqui e agora, sem memórias, planos ou projectos. Se já lemos alguma coisa sobre meditação, incluindo as páginas anteriores deste livro, esquecemos isso agora. Se já praticámos alguma forma de meditação, também esquecemos isso. Esquecemos mesmo tudo o que habitualmente pensamos ser ou saber. Entramos num estado sem conceitos, pressupostos ou expectativas, livres da ideia de haver alguma coisa a obter, a rejeitar ou a transformar. Não há nada a fazer senão estarmos conscientes do que está a acontecer. Nada fazer senão reconhecermos o que se passa sem nada querermos transformar, é noutro sentido fazer imenso e uma profunda transformação em relação ao nosso estado habitual de inquietação e ansiedade, em que andamos sempre a fugir de alguma coisa e a correr atrás de outra.

Sentamo-nos uns momentos com a mente aberta a todo o espaço circundante e trazemos então a atenção para a experiência que estamos a ter, aqui e agora, a nível físico, emocional e mental. Sentimos tudo o que se passa em nós – sensações físicas, emoções e pensamentos - e aceitamos incondicionalmente isso como puras experiências, que não rotulamos como boas ou más, agradáveis ou desagradáveis: são apenas experiências. Estamos como estamos, reconhecemos e aceitamos isso, sem juízos, comparações ou críticas. Estamos livres do conflito inerente a sentir-nos X e achar que devíamos sentir-nos Y. Largamos os conceitos habituais de estar bem ou mal dispostos, alegres ou tristes, entusiasmados ou aborrecidos. Estamos como estamos. Estamos. E é tudo.

Como podemos facilmente constatar, ao tentarmos fazer isto, a mente tende a fugir em todas as direcções, mas ao tomar consciência disso estamos já a focá-la na experiência presente. Estarmos conscientes da agitação e da distracção é já o primeiro e precioso fruto e benefício da meditação.


- Paulo Borges, O Coração da Vida. Visão, meditação, transformação integral (guia prático de meditação), Lisboa, Edições Mahatma, 2015, pp.92-93.

1 comentário: