sábado, 10 de janeiro de 2015

Mensagem dos esquecidos da história a todo o mundo e ninguém

Sou mais um doente que morreu após várias horas de espera nas Urgências de um hospital público. O meu estado era urgente, mas as Urgências não tiveram urgência em me atender. Tudo porque o Estado português e outros Estados desinvestem na saúde para investirem na protecção do grande capital.

Sou uma pensionista idosa, doente e só que se priva de comida para comprar medicamentos ou de medicamentos para comprar comida. Tudo porque o Estado português e os outros Estados estão ao serviço dos mais fortes e desprezam os mais fracos.
Sou uma vaca que vive num cubículo toda a vida a ser engravidada artificialmente para dar leite e viver o tormento da separação dos meus filhos assim que nascem. Tudo para lucro de uns poucos e prejuízo de muitos, pois cada vez mais se sabe que os lacticínios são gravemente prejudiciais à saúde humana.

Sou uma criança abandonada pelos pais em frente à televisão, a absorver violência e estupidez, porque não têm tempo para nada senão para trabalhar a fazer o que não gostam e chegam a casa cansados, stressados e sem paciência para estar comigo e muito menos para me conhecerem e compreenderem o meu mundo, que ainda resiste com o espanto e maravilha que o deles já perdeu há muito.

Somos vacas, porcos e frangos que adoramos viver, mas somos feitos crescer à pressa, como produtos industriais, em verdadeiros campos de concentração, para logo sermos abatidos e devorados. Tudo para lucro de poucos e prejuízo de muitos, pois cada vez mais se sabe que o consumo de carne é prejudicial à saúde humana e à sustentabilidade ecológica.
Sou o Vale do Tua, um ecossistema único em termos de fauna e flora, que está a ser destruído para prejuízo de muitos e lucro de poucos (EDP, bancos e construtores civis). Sou um de muitos em todo o mundo.

Sou a Terra, que com todas as suas criaturas está a ser explorada e devastada pela nova superstição do crescimento económico ilimitado. Para prejuízo de todos e lucro da minoria dos senhores do mundo.

Nós e muitos mais, tantos que não temos conta, somos as vítimas anónimas desta civilização, que tombam a cada instante que passa, esquecidas de (quase) todos. Os media nunca nos darão as primeiras páginas nem farão longas reportagens televisivas a dizer o mesmo horas a fio. Por nós os chefes de Estado, primeiros-ministros e políticos jamais participarão em grandes desfiles, nem as multidões virão para a rua. As crianças não escreverão o nosso nome nos rostos e ninguém nos acenderá velas. Não seremos tema de longos debates nos órgãos de comunicação social e ninguém colocará as nossas imagens nos perfis das redes sociais.

Seremos apenas o que desde sempre somos. Os esquecidos e espezinhados da história. As vítimas anónimas e silenciosas dos atentados que a cada instante se cometem. Seremos apenas o que desde sempre somos. A sombra e o peso da vossa consciência, caso algum dia a tenham. Pois destes atentados vocês são todos cúmplices, a começar pelo mais grave atentado de não terem consciência disto e de, assim que ela ameaça surgir, logo virarem a cara para o lado, para se distraírem com outra coisa. Sim, porque o sistema para o qual todos vocês colaboram baseia-se na cultura da falta de atenção plena ao que realmente acontece todos os dias e por isso (quase) nunca é objecto de notícia em lado algum.

Mas cuidado, porque tudo está interligado. Vocês são inseparáveis de nós e a nossa dor e o nosso tormento, mais cedo ou mais tarde, serão a vossa dor e o vosso tormento. Estas histórias nunca acabam bem. E a prova disso é já a vossa vidinha inconsciente e triste.

10.1.2015

2 comentários:

  1. E AS LÁGRIMAS CORREM-ME PELA FACE....TANTO HÁ PARA DIZER, MAS EU NÃO CONSIGO!

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  2. É verdade. Tanto mais há para dizer, que não se consegue...

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