sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O espelho foi talvez a mais perigosa invenção da humanidade

O espelho foi talvez a mais perigosa invenção da humanidade. Antes a imagem de si dependia da presença viva e real dos outros ou de um trémulo reflexo nas não menos vivas e reais águas do mundo. Depois passámos a ter um reflector fixo ou portátil, o sempre disponível suporte de uma consciência de si isolada e demasiado dependente da imagem física: sedutor convite a todos os autismos e narcisismos. O espelho, tal como a outro nível o pensamento, esse ainda mais perigoso espelho invisível, faz-nos crer que existimos realmente, separados da festa de todas as coisas. Ambos nos ajudam a encerrar-nos na auto-imagem e na solidão. Nesse sentido são poderosos aliados do ego. É por isso que uma certa superstição diz que partir um espelho provoca sete anos de azar. As superstições, tal como o ego, não gostam que nos libertemos. Vivamos sem espelhos. A realidade não carece de auto-imagem.

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