sexta-feira, 13 de setembro de 2013

"À Grande-Mãe"


“À Grande-Mãe"

Última e primeira, vem. Brande as serpentes
nas mãos fortes. Abandona teus seios de apojadas luas
aos trémulos cervos, ursos e grifos, tua prole
de garras e plumas. Aleita-os, Mãe de tudo!
Saltam leõezinhos para brincar contigo,
refulge a pupila da pantera e os pombos se aninham
em teu cabelo. Acolhes, generosa, o mundo dessas formas:
as criaturas do Mar e o cálido sangue da floresta.
A tudo alimentas, branda e altiva, sem que o lampejo
de teu olhar se extinga. Vem, última e primeira!
Louvo-te com palavras da Terra e das águas que percorres,
eriçando as vagas. Entre leoas fulvas esplendem tuas espáduas,
longe, sempre mais longe, na Origem crua.

- Dora Ferreira da Silva, Hídrias, 2004.

Sem comentários:

Enviar um comentário