segunda-feira, 26 de agosto de 2013

“[...] a questão é: ou salvar a Terra ou fazer bons negócios. Trata-se de uma disjunção exclusiva: ambas as propostas não são simultaneamente viáveis"



“[...] a questão é: ou salvar a Terra ou fazer bons negócios. Trata-se de uma disjunção exclusiva: ambas as propostas não são simultaneamente viáveis.

O desajuste último, o que condena de forma inapelável este sistema económico – o capitalismo que precisa de uma expansão constante, ainda que se encontre dentro de uma biosfera finita - , é uma ideia errada: tratar de viver dentro de um planeta esférico e limitado como se se tratasse de uma Terra plana e ilimitada.
Como se os recursos naturais fossem infinitos, como se a entropia não existisse, como se nós, seres humanos, fôssemos omnipotentes e imortais.
[…]
Basta fazer contas durante dez minutos para sabermos que esta civilização está condenada. […]
E o capitalismo persegue um valor de produção comensurável com o reembolso da dívida… Puro wishful thinking: porém a semelhantes disparates se subordinam as políticas e as vidas humanas (tal como as não humanas, claro está) sob o domínio do capital.
Endividar-se para crescer e crescer para pagar as dívidas: assim se ligam capitalismo financeiro e devastação ecológica.
Não há no planeta Terra recursos naturais suficientes para pagar a dívida emitida, acumulada, aceitada. Essa montanha de dinheiro virtual há-de ser denunciada (a banca privada é uma das instituições que não podemos permitir-nos numa sociedade sustentável).
Um sistema sócio-económico que só sabe abordar a realidade – as realidades – em termos de rentabilidade e benefício está condenado. Isto é óbvio […].
Continuar a pensar hoje em termos de business as usual – mais crescimento do consumo para que estique a produção; mais aumento da produção para incrementar o consumo; mais endividamento para crescer mais; mais crescimento para pagar a dívida – é equivalente a sermos crianças de 35 anos que esperneiam no chão: não é verdade, não pode ser, o Pai Natal existe, não são os pais!
Porém já vamos sendo cresciditos, não é verdade!? Já se nos pode dizer que o Pai Natal são os pais? E que o “desenvolvimento sustentável” baseado num suposto desajuste (decoupling) entre crescimento económico e impacto ambiental é engano dos poderosos ou autoengano?”


- Jorge Riechmann, Interdependientes y Ecodependientes, 2012, pp. 425-427.

Sem comentários:

Enviar um comentário