segunda-feira, 22 de abril de 2013

"O mundo não é um círculo com um centro, não tem essa estrutura egocentrada, é um oceano sem fronteiras e sem pontos de referência"



“O mundo não é um círculo com um centro, não tem essa estrutura egocentrada, é um oceano sem fronteiras e sem pontos de referência.
Quando alguém, não um ego necessitado, sai ao mundo a percepcionar, sentir e conhecer, nada é dado segundo a medida de alguém, tudo é desconcertantemente livre e sem referência a ninguém. Quando se sai assim, não se sai a caçar, porque já não existe a caça, nem ninguém pode voltar a casa carregado com uma peça, porque nem há caçador, nem há peça, nem casa aonde voltar.
Quando o que olha não olha como necessitado, quebra-se a dualidade entre o ego – núcleo de necessidades – e o mundo – campo de caça. Posto que se quebra a dualidade, tudo se torna não-dois.
O que há então é conhecer e sentir, porém ninguém conhece e sente. Nem se conhece nem se sente nada de concreto. Trata-se de um autêntico conhecimento e de um autêntico sentir e amor, porém sem que seja possível dizer eu, tu, isso, meu ou nosso. Na experiência espiritual o animal que somos conhece, sente e percepciona, realmente e sem duvidar; e o que percepciona e conhece, segundo os seus critérios de realidade, não é nada”

- Marià Corbi, Hacia una espiritualidad laica. Sin creencias, sin religiones, sin dioses, Barcelona, Herder, 2007, pp. 297-298.

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