sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Os benefícios de meditar no amor altruísta segundo o budismo e a neurociência

Uma meditação budista tradicional, metta bhavana, a meditação do amor altruísta, está a ser usada pelos neurocientistas para estudar o efeito deste sentimento sobre a mente, o corpo e o comportamento humanos. Consiste em começar por nós mesmos, visualizando uma luz no coração onde ao inspirar todo o nosso sofrimento se absorve e dissipa, para na expiração a irradiarmos impregnando-nos de luz, paz e felicidade. Alargamos depois a prática a entes queridos que visualizamos diante de nós, inspiramos o seu sofrimento para os libertarmos dele e, ao expirarmos, enviamos-lhes toda a paz, toda a felicidade e todo o bem. Continuamos depois alargando a experiência a conhecidos, a desconhecidos e àqueles que vemos com aversão, até abrangermos todos os seres vivos, humanos e não-humanos, em todo o universo.

Uma experiência recente conduzida por Barbara Fredrickson, com um grupo de pessoas que nunca haviam praticado meditação e que praticaram metta bhavana vinte minutos por dia durante sete semanas, mostrou que ao fim deste tempo, e por comparação com um grupo de controle de pessoas que nada praticaram, os primeiros sentiam mais amor, empenho nas actividades quotidianas, serenidade, alegria e muitas outras emoções positivas. Estes efeitos estenderam-se ao longo do dia e aumentaram à medida que o tempo passava. Por outro lado, verificou-se que este exercício aumenta o tónus vagal (relacionado com a actividade do nervo vago, que liga o cérebro ao coração e a outros órgãos). A investigação constata que pessoas com um tónus vagal elevado se adaptam melhor física e mentalmente a circunstâncias em mutação e são mais aptas a regular os processos fisiológicos internos (açúcar no sangue, resposta às inflamações), tal como as suas emoções, atenção e comportamento. Estão menos sujeitas a crises cardíacas e acidentes vasculares cerebrais, têm o sistema imunitário mais robusto e contraem menos diabetes e vários tipos de câncer.

Perante isto, o psicólogo Paul Ekman propõe que se criem “ginásios do amor altruísta”. A redescoberta da meditação confirma-se como a grande revolução do século XXI, a revolução silenciosa. Vamos praticar?

(Muita informação sobre o assunto no último e excelente livro de Matthieu Ricard, Plaidoyer pour l’altruisme. La force de la bienveillance, Paris, NiL, 2013. Ver também: Barbara Fredrikson, Love 2.0: How Our Supreme Emotion Affects Everything We Feel, Think, Do, and Become, 2013).

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