terça-feira, 28 de maio de 2013

Mais de um século depois, vamos continuar a deixar que Antero tenha razão?



“Em Portugal não pode haver revolução, que mereça este nome, porque revolução pressupõe propósito, firmeza e força moral, o que aqui não há. Portugal é um país eunuco, que só vive duma vida inferior, para a vileza dos interesses materiais e para a intriga cobarde, que é o processo desses interesses. Não sei se a união ibérica se realizará: mas, a realizar-se, far-se-á pela força das coisas e não pela intervenção livre e razoável das vontades, que as não há cá para tanto. Uma única revolução é possível ou antes inevitável em Portugal: é a revolução anárquica da fome, mas essa não precisa que ninguém a promova, nem pode ser matéria de programas políticos. Virá a seu tempo e fatalmente, como a conclusão necessária da desrazão e do egoísmo universais. Deixemos pois passar a onda providencial, e tratemos simplesmente, como indivíduos, de conservar cada um em si um foco tão intenso quanto possível de força moral, de inteligência calma e sofredora caridade, pois, no naufrágio desta sociedade, na perversão do espírito público, toda a esperança de regeneração está posta nas virtudes individuais. Se, no meio do geral envilecimento, a natureza humana se manifestar grande e amável em alguns poucos indivíduos excepcionais, ao mesmo tempo como protesto e como exemplo, não se poderá então dizer que está tudo perdido”

- Antero de Quental, carta a Alberto Osório de Castro, de 25 de Novembro de 1890, in Cartas, II, pp.1013-1014.

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